A experiencia A
2006-06-07
  reciffa

a exemplo da maioria das cidades ocidentais capitalistas do último meio de milênio pra cá, sendo herança do modelo burguês de sociedade, Reciffa também materializa um modelo social de exclusão econômica. os detentores do poder econômico são [tidos como] privilegiados, na medida em que vivem nas torres, nos pontos altos, donde se perde a noção de que os pobres dos morros também estão no alto, fazendo-lhes companhia.

mas essa tipologia, terceiro-mundista, sub-desenvolvida, além de capitalista e segregatória, se diferencia daquela do berço capitalista, o berço europeu da dominação financeira, justamente a partir do momento em que se apreende que os dominantes devem estar nas alturas, mesmo que apenas artificialmente: o modelo colonizado de ocupação do território, quanto à expansão das cidades, nos diz que os ricos devem se lançar às alturas através do seu poder econômico, construindo torres, que quanto mais altas, mais perto do céu; mas o mesmo modelo 'esquece' que os tidos como pobres estão quase tão perto do céu quanto aqueles outros, meramente por ocuparem uma parte do território que esteve até então disponível, esquecida, mas passível de ocupação.

então, Recife, a exemplo de tantas outras cidades seguidoras do modelo capitalista-excludente de desenvolvimento, manifesta essa segregação pelo arranjo das torres, a princípio, seguindo a conformação dos morros da zona norte, para depois dispersar-se em direção ao centro, coincidentemente por causa do centro financeiro existente ali, e atingir seu auge expressivo em Boa Viagem, materializando o visível "L" das torres dominadoras da cidade. todo o resto dela tem dominância horizontal, como se a cidade dissesse para seus habitantes: "fique na sua: para ser algo na vida, você deve fazer parte do clube, man! essa sua horizontalidade não permite que você seja um de nós. portanto, fique na sua e reconheça seu lugar, bem afastado de nós!".

Recife, a exemplo de tantas cidades ocidentais, também materializa uma exclusão social que todos nós já conhecemos e vivemos desde sempre. Apesar da intenção dos legisladores atuais, o grande "inimigo' não é o empresário, nem o especulador [são apenas instrumentos daquele], mas sim a origem da ocupação, a questão cultural. a resistência em ocupar densamente outras localidades ainda é grande, por causa da impressão coletiva sobre esses lugares, fruto justamente dessa informação pseudo-desnvolvimentista, quando na verdade é apenas colonizada, capitalista, excludente. não que Paris [maior exemplo entre as cidades européias desse ilusório "contra-modelo" excludente], por exemplo, com seu baixo gabarito predominante, também não seja excludente, mas a história de sua formação forneceu muito mais subsídios para que o mesmo modelo excludente não fosse tão perceptível quanto nas cidades colonizadas do novo mundo [coitadas], fazendo com que essa exclusão seja percebida mais profundamente, no dia-a-dia, no convívio com outros parisienses e europeus.

afinal, toda a sociedade do chamado "Novo Mundo" é filha de colonizações européias. e como tal, está "fadada" a reproduzir, pelo menos na essência, apesar de aparências superficiais, o que lhe foi ensinado ao longo da sua formação.
 
2006-05-09
  madalena
aqui começa [começa?] uma série [série?] que justifica o aparecimento desse outro blog. tentarei registrar certos exemplares interessantes de arquiteturas por aí, nas minhas passagens por lugares e os colocarei aqui, pra que os comentários tentem tirar as teias de aranha que se juntam aqui há anos... ajudem-me, pois...

essa casinha de aparência modernista, de prováveis 50 e poucos anos de idade impressiona pela forma como ainda se impõe no meio que foi sendo construído ao seu redor. ela consta de uma massa prismática trapezoidal que se encosta no recuo, provavelmente o mínimo permitido pela legislação vigente, recurso que favorece a dramaticidade dessa massa enorme que avisa ao pedestre da sua presença.

além do enaltecimento do peso do volume, outro fator que ajuda na sua imposição é o próprio tratemento da fachada, superfície de contato com o pedestre e com a própria cidade. a forma trapezoidal subentende uma linha diagonal que já cria tensão suficiente para que ela não passe despercebida. essa tensão é reforçada pela impressão de que o grande e pesado [e 'desequilibrado'?] volume está 'voando', em balanço, mas não está: o tratamento dado ao apoio desse grande volume é competente o suficiente para que se ache que o pesado 'voa', ou que, num segundo olhar, está apoiado numa tênue esquadria de vidro e alumínio, o que pode ser chamado de loucura, impossível... aliado a isso tudo, ainda há o arremate da varanda, que quebra o volume, ao mesmo tempo em que reforça sua massa característica, além de ser um recurso plástico muito bem resolvido.

no final, depois de tantos anos passados, a pequena senhora ainda mantém sua dignidade por ter sido bem gerada, bem criada, bem tratada durante a vida, e agora, na maturidade, bem relacionada com seus vizinhos e para com a cidade, o que pode ser constatado pelo baixo muro, que deveria separá-la do universo exterior.

coisa de mulher bonita, arrojada, desenrolada...

coisa de Mulher!
 
...serao feitas frases feitas para arquitetura/urbanismo?...

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Local: Hell_Sífilis, NE/PE, Brazil
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